Para quem não sabe ou não conhece o termo, eu sou “capixaba”, ou seja, natural do estado do Espírito Santo, no Brasil. Nasci na cidade de Vitória, a capital do estado, e morei entre Vitória e Vila Velha (cidade vizinha) até ir para Toronto com meus vinte e poucos anos.
Na minha opinião, uma das melhores maneiras de conhecer um pouco sobre um lugar é pela comida local, e de todos os pratos típicos da culinária capixaba, dois estão sempre no topo da lista: a Moqueca Capixaba e a Torta Capixaba! Ambos são deliciosos, mas tenho que confessar que com relação à moqueca, acabei adaptando a minha versão com alguns elementos da moqueca baiana (do estado da Bahia, terra natal do meu marido) e quem quiser, pode conferir esse resultado fusion na receita da Moqueca ‘Baiaxaba’ 🙂 aqui no blog!
E não posso deixar de mencionar o item mais característico da cozinha capixaba: as panelas de barro, feitas artesanalmente, que são otimas para o preparo desses dois pratos típicos (são próprias para uso no forno e no fogão) e dão um charme a mais na hora de servir a refeição.
De acordo com o Wikipedia, a Torta Capixaba é um prato típico brasileiro, característico da culinária do estado do Espírito Santo, tradicionalmente preparado em panela de barro, tendo como base o bacalhau e o palmito fresco, e adicionando frutos do mar, como camarão, sururu e siri desfiado.
A torta capixaba tem influências da cultura portuguesa, indígena e africana. A origem do prato ultrapassa 400 anos (desde o século XVII), e ele é fruto, principalmente, das tradições de base católica de comunidades litorâneas e das vilas de pescadores, que consumiam o prato no período da Quaresma devido à abstinência do consumo de carne vermelha.
Dentre as várias receitas e pratos que tem lugar de destaque nas memórias da minha terra natal, essa torta ocupa um cantinho especial. Ela tem sabor de infância pra mim. Sabor de tradição, de família reunida, da comida da minha mãe e da minha avó. Sabor de “está chegando a Páscoa”, sabor de morar no litoral, de influência Portuguesa com toques afro-indígenas, tudo misturado com amor e perfumando a casa com cheiro de saudade. Essa delícia é consumida mais frequentemente pelos capixabas durante Semana Santa (semana da Páscoa), e principalmente na Sexta-feira da Paixão, mas costuma estrelar nos cardápios de restaurantes tradicionais, vendedores de comida típica ou residências dos mais adeptos durante o ano inteiro.
A receita da torta que a minha mãe fazia foi herdada da minha avó materna, e com o passar do tempo firmou-se como minha referência, sendo conhecida e requisitada nas reuniões de família. Essa versão foge um pouco da tradição porque não inclui os frutos do mar (fica a critério de cada um adicionar os mariscos que goste), mas por outro lado tem a vantagem do preparo mais simples e rápido.
Então vamos lá! Depois de confirmar os detalhes com a minha mãe – era uma dessas situações em que não existia uma receita detalhada já escrita – e testar em casa, compartilho a receita abaixo. Espero que experimentem, gostem, e quem sabe essa se torna uma tradição de Páscoa (ou de outras reuniões familiares) para vocês também?
Se tiverem perguntas ou comentários, entrem em contato pelas nossas mídias sociais ou nos comentários abaixo. Obrigada!
Torta de Bacalhau (Torta Capixaba)
Equipment
- Panela de barro capixaba ou assadeira
Ingredients
- 600 g bacalhau salgado demolhado
- 500 g palmito fresco ou em conserva, picadinho
- 1 colh. chá cravos secos torrados e moídos (ou a gosto) - opcional
- 80 g azeitonas sem caroços, reserve algumas inteiras para decorar e pique as demais
- 1/2 xíc. azeite
- 6 ovos
- 1 cebola em rodelas para decorar
- sal e pimenta do reino a gosto
Instructions
- Pre-aqueça o forno em 180°C (350°F). Ferva o bacalhau (já demolhado) por 6-8 minutos, deixe esfriar um pouco e desfie, retirando qualquer vestigio de pele, ossos ou espinhas.
- Enquanto isso, cozinhe o palmito fresco picadinho em água com sal por 2-3 minutos, escorra e esprema com um pano limpo para remover bem a água. Se for usar o palmito em conserva, não precisa cozinhar, apenas escorrer, enxaquar, picar e secar.
- Misture o bacalhau desfiado com o palmito preparado, as azeitonas picadinhas e o azeite. Tempere com sal, pimenta e o cravo moído (se for usar) a gosto.
- Separe as claras das gemas dos ovos. Bata as claras em neve (em castelo) até ficarem bem firmes. Tempere com uma pitada de sal. Junte as gemas, uma a uma, e continue batendo até incorporar. A mistura vai ficar leve, aerada e um amarelo clarinho.
- Junte 2/3 dos ovos batidos à mistura de bacalhau (já fria). Coloque essa massa em uma panela de barro (sem tampa) ou assadeira untada com azeite.
- Cubra a massa com o restante dos ovos batidos. Decore com rodelas de cebola e as azeitonas inteiras.
- Leve ao forno preaquecido para assar até ficar bem dourado por cima. Retire do forno e sirva.
Notes
- Se quiser usar mariscos, eles devem ser cozidos (fazendo uma 'moquequinha' com azeite, cebola, coloral, tomate, sal, pimenta, suco de limão e coentro) e escorridos antes de adicionar à mistura de bacalhau. Substitua uma parte do bacalhau ou adicione camarão descascado e limpo, sururu limpo, e/ou siri catado.
- Se não encontrar (ou não quiser usar) o palmito, substitua por repolho picadinho (cozido em água com sal) ou abobrinha (curgete) descascada e picadinha (salteado e escorrido).
Crédito das imagens: A Gazeta